OBSERVAÇÕES…
Ao terminar a publicação dos 29 episódios que relatam parte
das minhas memórias, graças ao desempenho que exerci no Museu da Associação de
Futebol de Lisboa, durante dois anos e cinco meses, apetece-me tecer algumas
considerações (e não mais do que isso), pois entendo ser importante dar conta
do que senti durante o mandato.
Convém lembrar que a criação do Museu data de 2004 e, depois
disso, em dez anos, praticamente não teve uma vida muito ativa.
No início, em janeiro de 2014, logo que me apercebi que não
“bastava carregar num botão e tudo aparecia feito”, nada disso…
Tive que fazer horas extraordinárias (bastantes, aliás),
lendo (muito), estudando (também), compilando (com atino), memoriando (claro),
para que estivesse à altura de explicar pormenorizadamente 104 anos de
brilhante, maravilhoso e assombroso historial da centenária AFL desde os
fantásticos episódios que antecederam a sua criação, aqueles que ocorreram à
volta da revolução do 5 de Outubro, já que a eleição foi a 3 e a tomada de
posse verificou-se a 18, com algumas escusas, pois também, então, no futebol
para além das paixões clubísticas, as questões republicanas e monárquicas
sempre fervilhavam, razão porque o primeiro presidente da direção eleito não
chegou a exercer o cargo.
1.GUILHERME BANDEIRA HENRIQUES
Realço que, na verdade, foi uma agradável e valiosa
conquista para o projeto, pois a sua seriedade, atitude, tenacidade, dedicação
e voluntariedade foram alguns dos seus imensos dotes, sempre presentes e em
sintonia com os altos interesses da Associação de Futebol de Lisboa que o
acolheu, dando-lhe merecidamente, depois de eu sair, o estatuto de Diretor do
Museu.
Todo este trabalho é dedicado ao Ilustre Amigo Guilherme Bandeira Henriques!
2.CARLOS ALBERTO DE SEIXAS
Refiro que este senhor, Vogal da Direção da Associação de Futebol de
Lisboa, esteve sempre imbuído do espírito de dirigente que sempre pugnou dar a
conhecer as valências do Museu às gradas figuras do desporto-rei, fazendo-lhe
convites para o acompanhar nas inúmeras visitas que lhes proporcionou.
3.PRIMEIRAMENTE…
Era o título que pretendíamos dar a uma gigantesca obra que
envolvia, desde a data da fundação da AFL (23.09.1910), as primeiras
iniciativas de todas as variáveis que, ao longo dos tempos, foram crescendo com
o desenvolvimento natural da entidade que, até, chegou a dirigir, sozinha, o
futebol em Portugal!
Pretendia destacar os nomes dos primeiros jogadores
inscritos, assim como um número considerável de clubes filiados, com as suas
sedes, as suas cores e emblemas representativos, todos os jogos das seleções
lisboetas, selecionados, resultados, assim como todos os campeonatos,
categorias, equipas participantes, resultados, campos, árbitros, treinadores,
médicos, dirigentes de clubes e associativos, os corpos gerentes que dirigiram
a Associação, futebol feminino, assim como os escalões de jovens.
Também era passível de consideração o número de campeonatos
por época, categorias, jogos, castigos e por aí fora…
Com aquele título ou outro seria uma coisa com rigor, a sério, para mais tarde recordar…
4.GALERIAS FOTOGRÁFICAS
Estou a falar da horrível apresentação e da manifesta
indignidade que era ver as imagens dos presidentes de direção (colocadas na
sala nobre da direção, onde faltavam alguns deles e até dos mais eminentes), em molduras velhas e sujas, assim como as dos 21
árbitros internacionais (na rua dos Fanqueiros), quando teriam de ser 42!
A equipa operacional do Museu, vendo tal estado de coisas,
reagiu com uma urgente e decidida dinâmica para melhorar substancialmente o que
estava “profundamente doente”.
Basta dizer que 8 (oito) fotos de presidentes estavam numa
só moldura! Frustrante…
Conseguiu fazer um trabalho de elevada e esmerada qualidade,
sobejamente elogiado por todos quanto agora as visitam, tendo sido dado o
merecido respeito e decência a quem sempre defendeu a AFL em qualquer
circunstância.
Uma curiosidade: exceto a foto do presidente João Rosa
(representante do Clube Oriental de Lisboa) todas as outras estão de frente.
Foi uma enorme, mas gratificante tarefa conseguir a sua
foto, pois nem o próprio clube a tinha e não eram conhecidos familiares, apesar
de termos procurado em tudo o que era sítio.
Só uma pessoa amiga é que conseguiu o registo de quando
estava a receber um troféu de uma das equipas do COL e estava de perfil.
E assim lá está!
5.FOTO FIXATE
Revelo que o relacionamento com o ilustre Maximiano Nunes,
seu proprietário, foi muito mais do que o mero aspeto comercial. Sem a
colaboração e conselhos deste nobre amigo, aliados à alta capacidade técnica e
profissional em solucionar cabalmente os muitos problemas que lhe foram sendo
presentes, em termos fotográficos, o Museu jamais seria o mesmo! Fica aqui o
agradecimento pelos baixos valores que cobrou à AFL, por tanta e primorosa
qualidade dos seus magníficos trabalhos, que irão perdurar por todo o sempre.
Juntou-se o útil ao agradável…
A propósito: no Museu foi criado um arquivo fotográfico,
onde imensas imagens, dispersas, foram ordenadas e catalogadas para memória
futura, mas, o seu quantitativo era muito diminuto.
6.INTERATIVIDADE
Era a nossa “pedra de toque”, já que o diálogo com todas as
pessoas era uma riqueza incalculável no relacionamento que sempre
mantivemos, com gosto, alegria e respeito.
Foi um privilégio e uma grande honra tudo o que pudemos
desenvolver com beneméritos, visitantes (nacionais e estrangeiros), clubes,
dirigentes, jogadores, treinadores, museus, entidades particulares e estatais,
escolas e todos aqueles que, de qualquer forma, ajudaram a que o Museu fosse
referência no meio desportivo.
7.INSTALAÇÕES
O presidente Nuno Lobo sempre achou o espaço acanhado e
pretendia alargar os horizontes, com algumas ideias que não foram avante e é
pena.
As duas pessoas que serviam o Museu, a equipa operacional,
não tinham mais do que uma secretária e um computador antigo, que mais dava
arrelias do que alegrias.
Fizemos das tripas coração, mas fizemos!
8.REGULAMENTO
O seu esboço foi das primeiras coisas a fazer e quando saí
ainda não estava aprovado pela Direção. Houve aborrecimentos que se poderiam
ter evitado se a sua entrada em vigor fosse considerada.
É que à partida todos, incluindo os mais renitentes,
sabiam que o Museu funcionava como deve ser e não como até janeiro de 2014!
Foi
pena.
9.DISTINÇÃO ATRIBUÍDA PELA CÂMARA MUNICIPAL DE
LISBOA À AFL
No decorrer da aprendizagem que protagonizei, verifiquei que
a edilidade ofereceu à AFL, em 1910, a taça “Prémio da Cidade de Lisboa”,
trofeu disputado nos primeiros campeonatos por si
organizados. Depois disso, nada mais. Resolvi escrever, em
13 de outubro de 2014, à Câmara Municipal de Lisboa a solicitar que fosse
atribuída à AFL comenda condizente com o seu estatuto. Ainda pensei recolher as
assinaturas dos clubes lisboetas para dar mais enfase a esta solicitação, mas,
depois de bem pensar, achei por bem que não, pois ainda ia suscitar melindres e
mal-estar por uns assinarem depois dos outros.
A ideia foi minha, logo avancei
sozinho.
Entretanto, passados 458 dias, isto é, em 13 de janeiro de 2016, veio
a decisão, por unanimidade, que a AFL vai ter a Medalha de Mérito Desportivo.
Naturalmente que mereceria a Medalha de Ouro da Cidade, simplesmente igual às
distinções recebidas por alguns clubes lisboetas, seus filiados.
Coisas…
10.AS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NO MUSEU
Cumpri integralmente a promessa de elaborar relatório diário
com os acontecimentos vividos e acompanhados de muito perto, descrevendo, com
rigor e verdade, todos os factos, anseios e perspetivas que se foram
registando.
Os diretores que superintendiam na gestão do Museu tomavam
conhecimento dos documentos mensais logo no primeiro dia útil seguinte ao
período em referência.
Tudo simples!
11.PATRIMÓNIO
Quanto aos bens da AFL sempre disse, logo nos primeiros
momentos do meu mandato, que pretendia a realização de um inventário que
abrangesse a totalidade das peças existentes, com um registo sério e rigoroso
de cada peça, com imagem a cores, dados quanto a medidas (peso e altura), ao
material, valor simbólico, nome e data da competição onde foi conquistado e por
aí fora.
Ficou no papel.
Também foi frustrante saber que a grande maioria da
documentação dos primeiros sessenta anos de vida da AFL não existe, que foi
destruída.
As fichas de inscrição de jogadores, serviço iniciado em
1910, foram muito mal microfilmadas, mas as originais (com fotografias!) foram
queimadas.
Não conseguimos encontrar os troféus que, em tempos idos, aparecem
nalgumas fotografias relacionadas com a AFL.
Tomámos conhecimento de que desapareceu o livro de honra
utilizado na comemoração dos 75 anos da AFL (1985), onde muitas e destacadas
personalidades exararam as suas mensagens e assinaturas, com realce para o
maior futebolista de todos os tempos: Eusébio da Silva Ferreira.
Também recolhemos a informação de que foi para o lixo o
segundo volume da obra de referência, única e consagrada, “Meio Século de
Futebol, 1888/1938”, de Júlio de Araújo.
O mesmo destino tiveram muitos livros de atas, de
assembleias gerais e outros documentos, alguns de valor incalculável.
Como se constata, a falta de sensibilidade de alguns
dirigentes com poder de decisão foi gritante.
Tem-se de repudiar as autorizações proferidas para a
destruição de títulos inéditos e memoráveis, que jamais serão recuperados.
Tudo o que desapareceu é, sem dúvida, uma enormíssima e
lamentável perda para o historial da AFL e do futebol.
12.RELATÓRIOS E CONTAS DA AFL
Quando iniciei a grata missão de gerir o Museu, dos 103
documentos emitidos anualmente com as atividades levadas a cabo pela AFL,
existiam 85.
Foi, sem dúvida, uma titânica e árdua tarefa a procura, em
todos os locais possíveis e impossíveis, para recuperar a totalidade dos livros
Após aturados e persistentes contatos com imensas entidades
desportivas e não só, conseguiram-se, graças a boas vontades, obter 10.
Faltam, portanto, os das seguintes épocas: 1921/22, 1922/23,
1924/25, 1925/26, 1930/31, 1931/32, 1953/54 e 1955/56
Tínhamos um plano para recuperar, mais coisa menos coisa, as
informações referentes à AFL, procedendo à pesquisa na comunicação social de
cada período, de todas as notícias relacionadas com o futebol e a própria
Associação.
É certo que demoraria algum tempo, mas proporcionava a
completa coletânea dos acontecimentos registados em toda a vida da AFL, que
ainda está por concretizar.
E pronto, cheguei ao fim, manifestando quando me senti
honrado por tudo o pude contribuir para o engrandecimento, dignificação e
prestígio do Museu da Associação de Futebol de Lisboa, mas ainda faltava fazer
muita, mas muita coisa...
Saudações!
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