domingo, 10 de agosto de 2008

A ARBITRAGEM NOS MUNDIAIS, 1962-CHILE (VII)

Foi em 6 de Junho de 1956 que, em Lisboa, o Congresso da FIFA decidiu que fosse o Chile a organizar o 7º Mundial, depois dos candidatos Argentina e Alemanha Federal terem desistido. E, passados seis anos, assim aconteceu, pese embora o país tivesse sido arruinado em 22.05.1960, por um terramoto que registou 8.3 na escala de Ritcher, com consequências catastróficas: 25.000 mortes e 25% da população desabrigada. Aqui os argentinos ofereceram-se para levar a efeito a competição dizendo que tinham tudo para tal. Mas o Presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol, Carlos Dittborn, brasileiro naturalizado chileno, pronunciou, na oportunidade, a frase “Porque nada tenenos, lo haremos todo" (porque nada temos, faremos tudo). -1956, Edição filatélica portuguesa alusiva à reunião da FIFA/UEFA-

A FIFA, solidária, deu o seu aval para que se avançasse com as obras que terminaram em tempo útil. Contudo, Dittborn, não viveu para ver o resultado de seus esforços. Sofreria um ataque cardíaco em 28 de Abril de 1962, um mês antes do início do mundial. O estádio de Arica foi baptizado em sua homenagem. A competição decorreu de 30 de Maio a 17 de Junho de 1962, com a realização de 32 encontros somente em quatro estádios: Santiago do Chile (10 jogos), Viña del Mar (8), Arica (7) e Rancagua (7), um tão reduzido número de cidades, facto que constitui um recorde até hoje. -Estádio Nacional de Santiago do Chile-

Eis as 16 equipas finalistas: Alemanha, Argentina, Brasil, Bulgária, Checoslováquia, Chile, Colômbia, Espanha, Hungria, Inglaterra, Itália, Jugoslávia, México, Russia, Suiça e Uruguai. -Ráplica da bola oficial-

Nas eliminatórias inscreveram-se 56 selecções. Portugal voltou a não ser feliz, pois no seu grupo teve como adversários a poderosa Inglaterra e o modesto Luxemburgo. A ordem dos jogos foi a seguinte: 19.03.1961-Em Lisboa, com os luxemburgueses a quem ganhámos por 6-0, com golos de Yaúca, Águas e Coluna. No dia 21 de Maio, ainda em Lisboa, não fomos além de 1-1 com os ingleses, com golo de Águas. Armando Ferreira foi o Treinador nestes dois jogos.
-Leo Horn, Nicolaj Latychev e Robert Holley Davidson-

Em 8 de Outubro de 1961, com novo seleccionador (o grande Fernando Peyroteo) sofremos a mais humilhante derrota alguma vez permitida: no Luxemburgo perdemos por 4-2, com golos de Eusébio e Yaúca. No mesmo mês, mas a 25, em Inglaterra não passámos e fomos derrotados por 0-2. Teríamos que aguardar por 1966… -No sorteio com os capitães Josef Masopust (n. 09.02.1931) e Mauro Oliveira (n. 30.08.1930 e f. 18.09.2002)

Eis alguns episódios dignos de registo: -Nicolaj Latychev, Árbitro FIFA soviético-

Paulo Machado de Carvalho, chefe da delegação brasileira, obrigou a que tudo se passasse igual a 1958, quando obtiveram o seu primeiro título, o que foi escrupulosamente cumprido, quer em termos do seleccionado (pouquíssimas mexidas), quer quanto à indumentária (levou o mesmo fato que tinha levado para a Suécia), e a outras situações. Os resumos filmados dos jogos eram levados para o Brasil e exibidos no dia seguinte. -Fase do jogo da final, entre o Brasil e a Checoslováquia-

Foi a partir desta competição que a FIFA proibiu que jogadores pudessem jogar em mais do que uma selecção, pois verificaram-se os casos de Di Stéfano (argentino), Santamaria (uruguaio), Martinez (paraguaio) e Puskas (húngaro) que se naturalizaram espanhóis. A Itália fez alinhar os brasileiros Sormani e Altafini e os argentinos Sivori e Maschio… -Golo dos checos-

O Árbitro do jogo Colômbia-União Soviética foi o brasileiro João Etzel Filho. Descendente de húngaros, não nutria simpatia pelos soviéticos desde a invasão de Budapeste por parte do Exército Vermelho em 1956. Etzel disse que se vingou segurando a selecção soviética no surpreendente empate em 4-4, depois de ter estado a ganhar por 3-0. -Intervalo-

Nas vésperas do jogo contra o Chile, elementos da delegação brasileira descobriram que o adversário iria perturbar a turma do Brasil na chegada da selecção à capital Santiago. Para despistar os chilenos, a equipa seguiu o plano traçado pelo chefe da delegação, Paulo Machado de Carvalho: viajou metade da viagem de comboio e a outra de autocarro e evitou comer as refeições oferecidas a bordo. Na manhã da semifinal contra o Chile, a comissão técnica saiu para comprar salame, mortadela, queijo e pão. Os jogadores almoçaram apenas sanduíches, com medo de que algo pudesse ser sido colocado na comida do hotel. -Ataque do Brasil-
Quando se fala neste mundial de 1962, o que vem à mente do brasileiro? Provavelmente, as palavras bicampeonato e Garrincha. Mas, na verdade, o belíssimo desempenho do anjo das pernas tortas foi um dos poucos raios de luz em um dos piores torneios da história. -Defesa apertada do guarda redes da Checoslováquia-
Esta competição foi a mais violenta de todos os tempos. A famosa Batalha de Santiago, entre a Itália e os anfitriões, foi só um dos diversos jogos em que os pontapés se sobrepuseram ao futebol. Jugoslávia-União Soviética (0-2), Uruguai-Jugoslávia (1-3), Colômbia-Uruguai (1-2) e Alemanha-Suíça (2-1) são algumas das partidas que, se fossem disputadas hoje, terminariam com pelo menos cinco jogadores expulsos. Com apenas quatro dias de mundial, já havia 51 jogadores lesionados, incluindo um nariz e três pernas partidas e um quadril deslocado. Futebol romântico também era isso... -Final do jogo, Zagalo chora-
A violência espelhou a situação que o mundo vivia na época. Se por um lado celebrava-se a ida do primeiro homem ao espaço, por outro os 12 meses anteriores ao Mundial viram a desastrada invasão à Baía dos Porcos, a construção do Muro de Berlim e o começo da Guerra do Vietname.
-Capitão Mauro Oliveira com a desejada-

Pouco depois, ocorreria a crise dos mísseis de Cuba, na qual o mundo passou muito perto de uma guerra nuclear. No Brasil, a situação não era melhor: com a renúncia de Jânio Quadros, João Goulart era presidente. A instabilidade política crescia e viria a desembocar no golpe militar de 1964. -Equipa campeã, o Brasil!-
O imprevisto realmente aconteceu, em 2 de Junho, no jogo com os checos. Aos 28 minutos, Pelé recebeu uma bola de Didi, avançou até a meia-lua da área checa e dali chutou, forte, sem direcção, por cima da baliza. Imediatamente, levou a mão à virilha, como se acusasse alguma dor. Mas logo saiu caminhando normalmente. Dois minutos depois, Zito trocou passes com Didi, no meio do campo, e passou para Pelé, na direita. Já agora Pelé tinha, não apenas a mão na virilha, mas uma expressão de dor no rosto. Dali até o final do jogo, ele se limitaria a fazer número em campo. Sabia-se que era uma contusão grave e que ele estava definitivamente fora da sétima edição do mundial. -Drazan Jerkovic, o melhor marcador-
O jogo Brasil-Chile (4-2) foi repleto de lances emocionantes, não faltando até alguns momentos de violência. Os brasileiros foram sempre melhores, apesar de sensivelmente prejudicados pelo juiz peruano Arturo Yamazaki. Dois golos de Garrincha, sempre Garrincha, e dois outros de Vavá garantiram aos campeões do mundo uma vitória líquida por 4-2. Mas o Brasil haveria de pagar um preço por aquela semifinal. Garrincha, dura e impiedosamente atingido pelos pontapés adversários, acabou agredindo um deles e saindo de campo expulso. Mais uma vez, o anjo se convertera em demónio. -Alemanha vence a Suiça (2-0)-

Garrincha foi o principal jogador da selecção do Brasil, mas quase ficou de fora da final. Mané foi expulso no jogo contra o Chile por dar um pontapé no goleiro Rojas e pelas regras do torneio estava automaticamente excluído da competição. Conta-se que a CBD (Confederação Brasileira de Desporto) presenteou o juiz peruano Arturo Yamasaki com uma passagem aérea para o Brasil. Naturalmente, isso nunca foi comprovado, mas Garrincha passou por um rápido julgamento e ganhou o direito de jogar a final contra a Checoslováquia. O que mais beneficiou o craque na análise do júri foi o facto de o juiz peruano não ter entregue o relatório do jogo a tempo. -Chile derrota a Suiça, por 3-1-

Na final o Brasil venceu a Checoslováquia por 3-1 e conquistou a Jules Rimet pela segunda vez consecutiva. -Chile, 2 Itália, 0-

Jogos realizados: 32, com o total de 899.074 espectadores.
Golos Marcados: 89
Melhor marcador: Drazan Jerkovic (n. 06.08.1936), com 5 golos. Nota: Só em 1993, isto é, 31 anos depois, é que a FIFA veio a confirmar este título, ao considerar que o golo atribuído ao seu colega Galic, com a Colômbia, foi o quinto que marcou na prova.
Os seus companheiros de muitos anos, com os mesmos 4 golos, eram os brasileiros Garrincha, de seu nome completo Manuel Francisco dos Santos (n. 28.10.1933 e f. 20.01.1983) e Váva, alcunha de Eduardo Izídio Netto (n. 12.11.1934), o russo Valentin Ivanov (n. 19.11.1934), o húngaro Florian Albert (n. 15.09.1941) e o chileno Leonel Sanchez (n. 25.04.1936).
Disciplina: Durante o torneio foram expulsos 6 jogadores: os italianos Giorgio Ferrini (n. 18.08.1939 e f. 08.11.1976) e Mário David (n. 13.03.1934 e f. 26.07.2005), o uruguaio Ruben Cabrera (n. 09.09.1939), o chileno Honorino Landa (n. 01.06.1942 e f. 30.03.1987), Garrincha (Brasil) e o jugoslavo Vladimir Popovic (n. 17.03.1935). -Itália Chile, violento-

Quanto à arbitragem, foram seleccionados 32 Árbitros FIFA dos seguintes países: Alemanha, Antilhas Holandesas, Argentina, Áustria, Bélgica, Brasil, Bulgária, Canadá, Checoslováquia, Chile (7), Colômbia (2), Escócia, Espanha, França, Holanda, Hungria, Inglaterra, Israel, Itália, Jugoslávia, México, Russia, Suiça e Uruguai. -Itália Chile, expulsão do italiano Ferrini-

Entre tantos presentes, registe-se a surpresa de Portugal não ter sido contemplado, isto depois de ter estado representado em 1950, 1954 e 1958…
-Garrincha no Brasil-Chile (4-2)-

Já tinham estado em mundiais anteriores: Carl Erich Steiner (em 1954). Albert Dusch, Juan Gardeazabal Garay e Nikolaj Latychef (todos em 1958). -Alemanha, 2 Chile, 0-

Esteve presente neste mundial o consagrado Kenneth Aston, que mais tarde inventaria o método dos cartões disciplinares (amarelo e vermelho), utilizados pela primeira vez no mundial de 1970-México. -Chile, 1 Jugoslávia, 0-
Actuaram como Árbitros e Auxiliares 18 e somente como Auxiliares, 14. -Brasil, 2 Espanha, 1-

ADOLFE MOLINA REGINATO (n. ), CHILE, AR=0 e FL=2. ALBERT DUSCH (n. 06.12.1912 e f. 27.10.2002), ALEMANHA, AR=1 e FL=3. ANDOR DOROGI (n.10.08.1912), HUNGRIA, AR=1 e FL=3. ANTOINE BLAVIER (n. 28.01.1914), BÉLGICA, AR=1 e FL=2. ARTURO MASSARO (n. ), CHILE, AR=0 e FL=1. ARTURO YAMASAKI (n. 11.05.1929), PERU, AR=3 e FL=1. BEL LOPEZ MORALES (n. ), COLÔMBIA, AR=0 e FL=1. BRANKO TESANIC (n. 10.03.1920), JUGOSLÁVIA, AR= 1 e FL=1. CARL ERICH STEINER (n. 09.05.1920 e f. 13.03.1971), ÁUSTRIA, AR=1 e FL=2. CARLOS ROBLES (n. 15.12.1925), CHILE, AR=1 e FL=2. CESARE JONNI (n. 21.01.1917), ITÁLIA, AR=1 e FL=3. CLAUDIO VICUNA (n. ), CHILE, AR=0 e FL=1. DIMITAR ROUMENTCHEV (n. 06.01.1919), BULGÁRIA, AR=0 e FL=2. ESTEBAN MARINO (n. ), URUGUAI, AR=0 e FL=3. FERNANDO BUERGO ELCUAZ (n. ), MÉXICO, AR=0 e FL=3. GOTTFRIED DIENST (n. 09.09.1919 e f. 01.06.1998), SUIÇA, AR=3 e FL=2. JOÃO ETZEL FILHO (n. 1916), BRASIL, AR=1 e FL=3. JOSÉ ANTÓNIO LUÍS SILVA (n.), CHILE, AR=0 e FL=2. JOSÉ ANTÓNIO SUNDHEIM (n. ), COLOMBIA, AR=0 e FL=2. JUAN GARDEAZABAL GARAY (n. 27.11.1933), ESPANHA, AR=3 e FL=1. KAROL GALBA (n. 02.02.1921), CHECOSLOVÁQUIA, AR=1 e FL=3. KENNETH ASTON (n.01.09.1915 e f. 23.10.2001) INGLATERRA, AR=2 e FL=1. LEO GOLDSTEIN (n. ), ISRAEL, AR=0 e FL=2.
LEO HORN (n. 29.08.1916), HOLANDA, AR=3 e FL=2. LUÍS ANTÓNIO VENTRE (n. ), ARGENTINA, AR=0 e FL=4. MORALES BULNES (n. ), CHILE, AR=0 e FL=1. NIKOLAJ LATYCHEV (n. 21.11.1913), RÚSSIA, AR=4 e FL=1. PIERRE SCHWINTE (n. 06.03.1922), FRANÇA, AR=2 e FL=1. RAYMOND MORGAN (n. ), CANADÁ, AR=0 e FL=3. ROBERT HOLLEY DAVIDSON (n.19.07.1928), ESCÓCIA, AR=2 e FL=3. SÉRGIO BUSTAMANTE (n. 24.04.1924), CHILE, AR=1 e FL=1. WALTER JOSÉ MARIA VAN ROSBERG (n. ), ANTILHAS HOLANDESAS, AR=0 e FL=2. -Pélé sai lesionado-

VÍDEO DO JOGO FINAL:


Sem comentários: