domingo, 19 de fevereiro de 2012

NAQUELE TEMPO (LIV) – FEVEREIRO DE 1962



No Boletim “O Árbitro” nº 56 (ano V), de há cinquenta anos, destacaram-se os seguintes assuntos: TÍTULOS – João Gomes, do Porto, assinou “A Missão do Árbitro”. “Nem tudo é impossível”, de Ramos Cavaleiro. António Augusto Santos escreve sobre “Um lançamento lateral complicado”.
Diogo Manso, redige sobre “O Crítico de olhos trocados”. João Rafael Mateus, descreve “Casos e contrastes”. Joaquim Ramos Cavaleiro explana “Página Humorística”. Vítor Real, de Lourenço Marques, afirma que “É preciso elevar o nível do desporto em Moçambique”. Henrique Graça, de Coimbra, desenvolve “Mais uma… sempre mais uma, para não mais acabar”. “Como eu vejo a arbitragem em Luanda”, artigo de Isidro Fragoso. Ainda Barros Araújo, de Luanda, analisa o tema “Da conjugação de esforços para uma arbitragem melhor”. Na foto a equipa de arbitragem italiana que esteve no Estádio da Luz a dirigir o Benfica-Nürnberg (6-0): Bruno de Marchi (n. 08.12.1925/f. 31.07.2007), Gino Rigato (n.1930) e Renzo Righetti. ÓSCAR SIMÕES (na foto) – Vítor Real evidencia este pioneiro da arbitragem moçambicana, que foi conhecido pelo Árbitro Avô, pelos seus dezasseis anos de actividade ininterrupta (iniciou-se em 1946). Homem de rija têmpera que muito deu à causa. Guarda-livros de profissão e casapiano antes jogou futebol em Lisboa, Tomar, Bolama e Bissau. Foram-lhe outorgados vários louvores, assim como a medalha de bons serviços prestados à arbitragem.
Um exemplo em terras africanas.PÁGINA DA COMISSÃO CENTRAL – Eis algumas chamadas de atenção para os Árbitros: Dado que o bilhete de comboio “Fim de semana” é utilizado em qualquer percurso anula-se a informação anterior onde constava “mínimo 50 quilómetros”. Para que a Companhia de Seguros não possa eximir-se, lembra que é obrigatoriamente indicar nos boletins de jogo qual o modo de deslocação utilizado pelos Árbitros quando nomeados para as partidas que vão dirigir. Reforça que o uso dos emblemas de pano da Comissão Central de Árbitros é obrigatório, sob pena de vir a constituir infracção o não cumprimento desta determinação. O custo de cada distintivo é de 12$50. Quanto às dispensas que os filiados solicitam alegando doença, dado acarretarem transtornos, embaraços e despesas, isto porque não é possível utilizar a via telegráfica ou telefónica quando as estações não têm horário permanente, futuramente terão de apresentar atestado médico firmado pela entidade médica local, o qual deverá dar entrada nos serviços até 48 horas depois da data do pedido de dispensa…
Lista as equipas de arbitragem da época 1961/62 para os jogos da 3ª Divisão e Juniores. A saber: Aveiro (4), Beja (3), Braga (3), Bragança (1), Castelo Branco (1), Coimbra (4), Évora (2), Faro (2), Leiria (4), Lisboa (6), Portalegre (1), Porto (8), Santarém (4), Setúbal (5), Vila Real (1) e Viseu (2). Para além de se fazer referência aos dezassete anos de existência do jornal “ Bola” e a divulgação da abertura de inscrições para novo curso de candidatos em Lisboa, ainda se deu nota dos seguintes acontecimentos: nascimento, casamento, doença súbita, internamento hospitalar, falecimento, viagem profissional, isto na área pessoal e na desportiva, casos de licenciamento, transferência, regresso, demissão e auto de posse. NOTÍCIAS DE ANGRA DO HEROÍSMO – O Prof. Tavares da Silva deu aulas de preparação física aos Árbitros locais no ginásio da Escola Técnica. O Curso de Aperfeiçoamento levado a efeito pela Comissão Distrital foi muito animado com jogos de futebol e provas de atletismo, destacando os 80 metros planos que poderiam ser percorridos em menos de 12 segundos. José Leal (11s) e Manuel Góis e Eliseu Angra Bettencourt (11,5s) ocuparam os lugares cimeiros.
-Eis as duas equipas a posarem para a posterioridade-
Valdemar Oliveira dirigiu os desafios entre candidatos e Árbitros, que os primeiros ganharam 5-2 e 5-3. Semanalmente reúnem-se na sede da Comissão para participarem em sessões técnicas que servem para actualizar conhecimentos e aproximar critérios de actuação e comportamentos.-Uma fase do primeiro jogo-
Na véspera de Natal de 1961 teve lugar um jantar/convívio que juntou a família da arbitragem terceirense, fortalecendo, assim, a ligação entre dirigentes e filiados, que culminou com troca de lembranças. As provas finais dos candidatos serão realizadas brevemente. -José dos Reis, Policarpo Silva e João Relvas, da Ilha Terceira-
Na tomada de posse do novo elenco directivo da Associação de Futebol foi prestada homenagem aos dirigentes do sector de arbitragem. A FIFA criou o quadro de Instrutores e não se esqueceu das valências e características do português Filipe Gameiro Pereira, que dele faz parte, o que muito honra a arbitragem portuguesa. Leia-se este mimo de um “jornaleiro”: “Jogo muito duro por parte de ambas as equipas, consentido em parte pela pouca personalidade do juiz da partida. Arbitragem boa”. O Algarve dá conta de que os jovens não se sentem atraídos pela arbitragem, salvo o jovem e esperançoso César Correia, de São Brás de Alportel, que com devoção, sacrifício e acrisolado amor à causa, tem mantido o fogo sagrado, que aqui se destaca. O boletim do Sport Clube de Vila Real tem inserido, mensalmente, as leis do jogo na expectativa de instruir jogadores, sócios e demais interessados pelo fenómeno do futebol. Por último, uma situação curiosa: O Árbitro madeirense Jaime de Freitas, pretende corresponder-se com colegas que têm a mesma paixão. Travessa das Voltas, 8, Funchal, era o seu endereço postal. Marcos Lobato (Setúbal) e Reinaldo Silva (Leiria), viajaram para o Funchal para dirigirem partidas da Taça de Portugal que apuraram o representante madeirense que defrontaram o do Açores. O internacional Francisco Guerra (Porto) foi designado para os encontros decisivos marcados para 4 e 11 de Março. Foram adquiridos 50 livros de leis do jogo, da autoria do espanhol Pedro Escartin, que serão vendidos a 25$00, cada exemplar. O Dr. Décio de Freitas, lisboeta e FIFA, acedeu ao convite vindo da Grécia e foi até Atenas arbitrar um dos jogos do campeonato local. Mereceu os mais rasgados elogios. O Comité de Arbitragem da FIFA designou, por sorteio, que o jogo Holanda-Suiça, primeira eliminatória da Taça da Europa, a disputar até à Primavera de 1963, terá Árbitros portugueses. A recolha de fundos para a construção de mausoléu para Ribeiro dos Reis recebeu da Comissão Central a significativa quantia de mil escudos. O responsável por esta rúbrica responde a duas perguntas do leitor J. Alves Pereira, de Luanda. A primeira situação: O guarda-redes efectivo troca de lugar com um colega avançado. O novo guarda-redes, pouco depois, lesiona-se e é substituído por suplente que ocupa o seu lugar, à baliza. Este jogador que estava na baliza, mais tarde, trocou com um avançado. Tudo isto será possível? Diz o Comunicado Oficial 47, de 20 de Dezembro de 1958, que sim! Pergunta seguinte: Um guarda-redes magoou-se e é substituído pelo suplente. Pode, após o recomeço do encontro, o novo guarda-redes trocar de posição com colega avançado? A Lei III e as determinações em vigor (na altura) permitem esta permuta tantas vezes quantas forem precisas. Os jogadores portugueses quando são expulsos por agredirem adversários desculpam-se no mau entendimento que o Árbitro teve porque não viu bem a situação. Custa-lhes muito dizer a verdade? Desvairados continuam a fazer das suas nos campos de futebol. Para quando a aplicação de severo castigo a essa gente? Um adepto inglês lembrou-se de processar o Árbitro do desafio onde o seu clube participou alegando que houvera uma grande penalidade injusta e um golo anulado absolutamente legal. E esta, hein? Numa final de andebol, no campo do Palmense (Lisboa) a Polícia fez sair do campo espectadores que se insurgiam de maneira incorrecta para com o Árbitro e jogadores. Não seria um bom exemplo a seguir… Eduardo Neves dá notícias do centro do país: Em Viseu decorreram os exames escritos aos candidatos que obtiveram boas notas. Por iniciativa dos filiados viseenses foi instituída uma taça, denominada “bom comportamento”, que será entregue a Aires Nogueira Romariz, jogador do Sporting Clube de Lamego, grande exemplo de desportista, dentro e fora do rectângulo de jogo. O colega Francisco Jerónimo foi acometido de doença súbita quando actuava no regional da Guarda, no jogo Vila Nova de Tázem-Gouveia. Regista-se o trabalho desenvolvido pelos Delegados do Boletim, de Aveiro (José Gonçalves Mota, na foto) e de Timor (Rodrigo José de Sousa, na imagem seguinte), que não poupam esforços no desempenho da sua grata missão junto dos colegas Árbitros das suas regiões. LEGISLAÇÃO E DOUTRINA – É divulgado o artigo 28º, referente à admissão de candidatos a Árbitro de futebol, do qual se destaca alguns pontos interessantes: os pretendentes não podem ter menos de 1,65 mts. de altura, apresentar documentos comprovativos de aptidão física e de boa visão, ter mais de 20 anos de idade e menos de trinta e cinco, entregar certificado de bom comportamento moral, civil e desportivo. Do artigo 29º (Escola de Candidatos), dá-se conta de algumas passagens: Vinte e cinco era o número mínimo de aulas. O máximo era aquele que o encarregado do curso assim entendesse. Os candidatos que faltassem a mais de 1/5 das aulas sem justificação eram excluídos. Os formadores eram pessoas de reconhecida competência com provas já dadas à causa da arbitragem à qual se tenha dedicado e defendido. Matéria a leccionar: História do futebol e da sua introdução em Portugal, interpretação e aplicação das leis do jogo, sistemas de arbitragem, noções gerais sobre regulamentos da Federação, Associações e Comissão Central de Árbitros.

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