quinta-feira, 22 de novembro de 2012

NAQUELE TEMPO – NOVEMBRO 1962 (63)

O Boletim “O Árbitro” nº 65 (Ano VI), de há cinquenta anos, destacou, entre outros, os seguintes temas:
TRIBUTO A ANTÓNIO RIBEIRO DOS REIS – Várias personalidades dedicaram algumas linhas ao grande Mestre, que se transcrevem:
-RIBEIRO DOS REIS-
Décio de Freitas (Director do Boletim) – Com o título: “Que posso eu mais dizer!!?”, recorda que há 6 anos, no primeiro número de “O Árbitro”, Ribeiro dos Reis o que escreveu, assim como os conselhos que dedicava a quem gostava do desporto-rei
-ULTIMO JOGO QUE DIRIGIU: CAVALARIA 7 E LANCEIROS 2, NAS SALÉSIAS-
Oliveira Machado, jornalista do Record, afirma que “Sobra-nos em Saudade o que nos falta em verbo”, destacando que Ribeiro dos Reis deixou bem vincada a sua passagem, fortalecida numa personalidade inultrapassável. Evoca ainda a sua excelsa qualidade de jogador, que atingiu a internacionalização, e como dirigente, que pautava a sua conduta sempre com desportivismo; como jornalista, debruçou-se sobre os mais variados problemas do futebol, com conhecimento e elevação, e sem que, para tal, usasse da ofensa ou do sarcasmo sequer; como director do jornal “A Bola” alicerçou o prestígio na linha de imparcialidade que o caracterizou; como membro da Comissão de Regras da FIFA, foi o único português que, desde sempre, a fazer parte do seu elenco; mestre em assuntos de arbitragem, a sua opinião era escutada com todo o respeito, aquém e além-fronteiras. Tudo isto porque António Ribeiro dos Reis foi “alguém”, que foi reconhecido por ser uma pessoa sincera, afável, solidária. Destaca, ainda, as provas de amizade e estima que dele recebeu.
-JOGADOR DO SPORT LISBOA E BENFICA-
Francisco Madeira Mega, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, dedica as suas palavras aos Árbitros de Futebol que procuram prestigiar a dignificar a sua missão”, começando por dizer que não é tarefa fácil falar de Ribeiro dos Reis, pois sair elogios da sua modesta caneta, seria impossível, por lhe faltar para tal, saber e engenho. Preferiu divulgar o prólogo que Pedro Escartin escreveu no livro editado em 1943 por Ribeiro dos Reis FUTEBOL-Divulgação das suas leis, onde lhe faz um rasgado elogio, dizendo que era um dos homens mais capazes e entendidos sobre questões técnicas! Os seus trabalhos, a sua dinâmica, o seu saber são, nada mais, nada menos, um incentivo àqueles que, na arbitragem, querem ir longe e sempre pelo bom caminho…
-NA EQUIPA DO SPORT LISBOA E BENFICA-
Manuel Mota, jornalista do “Mundo Desportivo”, assina “Ribeiro dos Reis e a sua notável obra nacional no estudo e divulgação das leis do jogo” e adianta que conheceu-o há mais de trinta anos e manteve sempre contacto mesmo que alguns pontos de vista não coincidissem. Era um apaixonado pelas regras. Os cargos que desempenhou nas entidades que se dedicavam ao futebol foram superiormente desempenhados com brio, humildade e dedicação. Deixou obra literária para os vindouros, como o livro publicado em 1943, com um “questionário para Árbitros”, documentos eloquentes do seu muito saber.
-NA PRIMEIRA SELECÇÃO NACIONAL-
A Comissão Distrital dos Árbitros de Futebol de Faro expressa que Ribeiro dos Reis foi um dos homens que conseguiu, numa das suas múltiplas actividades de que o Homem é capaz, permanecer na ausência.
-COM FERREIRA BOGALHO, PRESIDENTE DO SPORT LISBOA E BENFICA-
Raul Oliveira, director do “Mundo Desportivo”, com a rubrica “Ribeiro dos Reis, honra do desporto, glória do jornalismo desportivo”, escreve que se conheceram ainda meninos o moços e que trabalharam juntos no “Sport Lisboa”, o único periódico desportivo de então. Em 1927, no jornal “Os Sports” voltaram a trabalhar juntos. Destaca o seu bom carácter, os seus saberes, a sua alta capacidade de “ler” as regras de jogo, Um senhor, afinal!
-COM MATATEU, SÍMBOLO DO CLUBE DE FUTEBOL OS BELENENSES-
Fernando Henrique Pimenta, presidente da Comissão Central de Árbitros de Futebol, desenvolve o cabeçalho “Ribeiro dos Reis, na história do futebol português”, com a admiração que por ele nutria desde criança, quando se iniciou na chefia da Comissão, meteu mãos à obra para levar a efeito um ciclo de conferências e muito gostaria que Ribeiro dos Reis o iniciasse, mas tal não foi possível. Realça que foi um seu fiel, desinteressado e obscuro fã, sabendo ser o jornalista um pedagogo, inteligente e criterioso. Como Mestre devotado de arbitragem soube ser um amigo para os seus agentes, ensinando-os com competência e, acima de tudo, compreendê-los. Criticou-os com objectividade, quando para tal procedimento descortinou razão, usou mesmo de rigor nessas críticas; a sua isenção foi, entretanto, sempre patente e a sua condescendência, em relação a fraquezas desculpáveis, não a recusou nunca. Mesmo castigando, Ribeiro dos Reis, ensinou. A arbitragem nacional e internacional muito lhe ficou a dever. Verdade indestrutível: Ribeiro dos Reis entrou na História do Futebol Português!
-TENENTE-CORONEL DO EXÉRCITO PORTUGUÊS-
Joaquim Alves Teixeira, director do ”Norte Desportivo” deu o título “Ribeiro dos Reis, Rendição Difícil” ao tema que escreveu, dizendo que Ribeiro dos Reis como jogador, técnico, dirigente e jornalista foi sempre igual, inalteravelmente honesto. Marcou uma personalidade forte, inteiriça, de uma só face. Nunca pretendeu – como tantos – velar a sua paixão benfiquista. Tentou, quase sempre vitoriosamente, conservar-se alheio à criação de facções. Foi um espírito construtivo. Internacionalmente vincou presença relevante. Em representação do futebol português nunca foi uma figura alegórica, um ornamento. Foi homem de acção, trabalhador incansável pela cauda da arbitragem, que serviu com devoção de missionário. A sua morte deixou uma lacuna que ainda não foi preenchida. A rendição é difícil.
-BRINDANDO-
Carlos Vieira de Carvalho, dirigente federativo, relata em “Até ao último momento”, tudo o que foi ter estado bem próximo de Ribeiro dos Reis até ao seu derradeiro momento de vida. Evoca que trabalhou com Ribeiro dos Reis na tradução do código do jogo esmiuçando os textos inglês e francês, recorrendo, por vezes, aos livros de leis espanhol, italiano e alemão, demonstrando a sua elevada capacidade intelectual, onde a minúcia e a inexcedível competência lhe deram a noção exacta do motivo porque o Mestre Ribeiro dos Reis era respeitado na Comissão de Arbitragem da FIFA! Durante mais de um ano, quase dia a dia, assistiu ao fim de alguém que muito estimava; sentir-lhe a vida a extinguir-se; conduzi-lo penosamente pelo braço ao último jogo de futebol da sua vida; pegar-lhe ao colo, dia antes do fim, para lhe proporcionar assistir à última transmissão televisiva de uma partida – tudo isto confere, quer-lhe parecer, o direito de dizer aos seus amigos e admiradores, que apenas de longe foram sabendo da sua doença, que Ribeiro dos Reis foi extremamente fiel a si próprio até ao último momento. Recorda, ainda, um episódio após Ribeiro dos Reis ter sido submetido a uma intervenção cirúrgica demorada, foi visitá-lo ao hospital e que quando despertou da anestesia ao saudar Vieira de Carvalho levantou o braço e pronunciou: foi só… um pontapé-livre… indirecto… Assim, exactamente! Nem sequer esquecera, ainda sob efeito adormecente da cirurgia, que aquela reposição da bola em jogo exigia o braço levantado!  
-COM VÍTOR SANTOS, DE A BOLA-
Vítor Santos, jornalista de “A Bola”, sob o título “Já passou um ano”, muito sentiu quando telefonicamente lhe deram a triste notícia do seu falecimento. Homem sereno, frenador de entusiasmos e de excessos, que, como Director do jornal, nunca lhe impôs ou proibiu isto ou aquilo, mas o ditou, sem abrir a boca, com um exemplo vivo de uma seriedade moral e profissional apenas inultrapassável. Foi na sua personalidade que veio a encontrar a humilde lição daquele “saber que nada sei” de que falava Newton. Ribeiro dos Reis apenas exigia que os seus colaboradores reforçassem o espírito de corpo da equipa do jornal. Reconhece que teve a honra de ter Ribeiro dos Reis como Mestre e como Amigo.
-O CONSELHO DE ARBITRAGEM DA ASSOCIAÇÃO DE FUTEBOL DE LISBOA TEM SEMPRE PRESENTE A MEMÓRIA DE RIBEIRO DOS REIS GRAÇAS A TER DEDICADO O SEU NOME AO AUDITÓRIO – NA IMAGEM - QUE UTILIZA HÁ MUITOS ANOS.
TÍTULOS – Cardoso Ribeiro assina a crónica “Com Árbitros quase amadores, prematuramente ou não, o futebol português atingiu a “cúpula…”. “Balizas”, é o tema assinado por António Augusto Santos. João Malheiro é o autor do texto “Alma sã em corpo são”. Eduardo Rodrigues da Costa, de Almada, subscreve “Não será assim?”.
-CONVÍVIO EM LISBOA-
CONVÍVIO-Aproveitando a presença dos colegas internacionais Henri Faucheux (França) e Julián Arque (Espanha) e de suas esposas, os Árbitros portugueses obsequiaram-nos com um jantar num restaurante típico lisboeta (na foto).
 A Federação holandesa aprovou, por 50 votos a favor e 16 contra, a inscrição de candidatas num curso de iniciação à arbitragem. Quando em actividade só poderão dirigir jogos de jovens até 16 anos de idade. Regista-se que dois países africanos em vez de desenvolverem o fair-play, cortaram relações e quase que entravam em conflito armado, tudo isto por causa de um simples jogo de futebol… Um jornalista espanhol, de Pamplona, devido ao seu clube ter perdido, atacou o Árbitro da partida, com estes “mimos”: “Há más arbitragens por má-fé. Há actuações deficientes por desconhecimento. Há péssimas arbitragens por lucro. Há trabalhos de juízes de campo inconcebíveis por os Árbitros saberem muito. Nada disto se passa com fulano. A este o que sucede é que está doido, doido mas dos varridos…”. O Árbitro holandês Leo Horn acaba de passar um mau bocado em Roterdão, pois assinalou uma grande penalidade no último minuto de jogo conta o clube que jogava em casa. Como consequência teve que participar do público que arremessou para o rectângulo garrafas e outros objectos. Também viu afectados os seus negócios naquela cidade. Na Suíça os Árbitros que completem vinte anos de actividade têm direito a um emblema de ouro da Associação dos Árbitros. Passou para 30 francos suíços a compensação a atribuir aos Árbitros por jogo do campeonato nacional. Faleceu o Árbitro Eloi Chenaux, que vivia em Neuchâtel, devido a ter sofrido um grave acidente de trânsito, no qual evitou o atropelamento de dois ciclistas. 
-ANGRA DO HEROÍSMO-
IMPUNIDADE QUE REVOLVA – Oliveira Machado transcreve do jornal “Record” a fobia de certos senhores que orquestram campanha contra os Árbitros, quando a sua equipa perde, já que julgam e acusam, num descaro desprezo, pela honra alheia, desviando para outros o alvo que em cheio lhes cabia. Repare-se que sempre um clube sai vitorioso e alguém das suas fileiras é ouvido, tudo são auto-elogios e só não se diz que o juiz de campo foi esplêndido… porque nem se fala nele. Outrossim, se a derrota lhe bate à porta, raro se presta justiça ao triunfo adversário e culpa-se – regra geral, em que não existem excepções – o Árbitro como único causador do desaire sofrido. Alguns, até se dizem homens do desporto sem que do desportivismo possuam a menor noção. Se o trabalho do Árbitro se encontra sujeito à crítica de qualquer, amanhã o Árbitro poderá muito bem apontar o dirigente ou o treinador como culpados do mau resultado do seu emblema. Se assim proceder não usará das mesmas armas que usam para apontar para ele?
-ANGRA DO HEROÍSMO-
A Comissão Distrital de Árbitros de Angra do Heroísmo levou a efeito uma reunião técnica com os seus filiados, com Policarpo Martins a proferir palestra sobre o sistema diagonal-cooperação entre Árbitros e seus colegas, assim como realizou provas atléticas para aferir a condição física de todos.
Nota: As últimas três imagens reportam-se a este acontecimento.
-ANGRA DO HEROÍSMO-

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