Na sequência do julgamento no dia 20 de Novembro de 1996, no Tribunal de Matosinhos, onde foram considerados culpados de corrupção, os réus José Guímaro (árbitro), e dos dirigentes Manuel Lopes Rodrigues (presidente do Leça), de seu pai Manuel Gonçalves Rodrigues e de António Ramos, este pertencia ao Varzim, condenados respectivamente com 15 meses de prisão, 12 meses e, os últimos, com 8 meses de prisão, mas com a pena suspensa por 2 anos, o jornalista e meu bom amigo Antunes Ferreira (na foto) redigiu o artigo com o título LIMPEZA TOTAL! o qual viria a ser publicado no jornal A Bola, edição 8404, do dia seguinte (quinta-feira), página 11, na rubrica Opinião, que a seguir se reproduz na íntegra e com a devida vénia:
A farsa prossegue. Os truões parecem inquietar-se mas persistem em proporcionar a um País boquiaberto a exibição de chagas purulentas e quasimodescas. Victor Hugo que me perdoe, mas o bando de malfeitores ultrapassou já os grotescos e andrajosos desgraçados que se enovelavam em volta da Notre Dame.
Enquanto o Conselheiro Pedro Mourão, em nome do Conselho Superior de Magistratura, lança um solene aviso aos juízes que se meteram e metem numa das mais escandalosas querelas nacionais, enquanto a Judiciária ouve declarantes e faz investigações, enquanto Miranda Calha adverte que poderá retirar estatutos de Utilidade Pública a esmo, enquanto Gilberto Madaíl se esforça desesperada e desesperançadamente para que os patrões da FIFA e da UEFA não utilizem o poder disciplinar que, muito justamente, têm a faculdade de exercer sobre a pandilha – enquanto isso tudo acontece, os interpretes da dantesca peça em que se transformou o futebol caseiro tremem, mas continuam a estrebuchar, tentando desesperadamente fugir em frente.
Desta feita é o presidente (?) do órgão da Liga que elege os árbitros, o juiz Cruz Pereira (indicado pelo F.C.Porto ou pelo Norte, ou porPinto da Costa, ou por Adriano Pinto, ou por quem quer que seja), saia público em declarações pateticamente incongruentes, dizendo agora para desdizer-se depois, metendo os pés pelas mãos e estas pelos sovacos e a cabeça sob os joelhos, num contorcionismo digno de um circo de pacotilha.
Em causa uma chamada do juiz de toga para o ex-juiz de campo José Carlos Amorim Calheiros, aliás José Amorim, aliás Carlos Calheiros, de acordo com as oportunidades, as conveniências e as viagens de férias. Houve quem testemunhasse – e ouvisse colectivamente, pois, se calhar, o telemóvel tinha dispositivo mãos livres... Pelo menos, ao que parece, os manos do ex-árbitro, seus auxiliares, e um senhor Matos que o disse, alto e bom som.
De princípio, disse o magistrado que não houvera chamada nenhuma; mas logo em seguida que a fizera sim senhor, isto depois de ter feito “um esforço de memória”, não depois mas sim antes do jogo V.Guimarães-Belenenses para a Taça, não para dizer ao engº Calheiros que Pinto da Costa estava muito aborrecido com ele por causa de um jogo Belenenses-F.C.Porto, mas, bem pelo contrário, só para lhe desejar felicidades no desembaraço e no apito.
Mas as horas, essas coisas terríveis que os relógios marcam inexoravelmente, as horas da chamada, ainda por cima registadas por se tratar de telemóvel, eram sinal incisivo de que ela fora depois de. E agora? Agora, que sobre isto tudo de esquecimentos, relembramentos e horas desencontradas, vem à baila outra fala do mesmo senhor sobre nomeações de árbitros ricos (e por isso potencialmente incorruptíveis) e árbitros pobres (por isso também potencialmente corruptíveis ou menos suspeitosos)!!!
Bem podia o dr. Pôncio Pilatos Monteiro tentar, pela enésima vez, lavar as mãos, acenando com o facto de não poder dar crédito ao engº Calheiros, porque dissera e desdissera cosmicamente tempos, escassos, atrás. Nem lhe ocorreu que estava a teleplagiar o dr. Cunha Leal, que momentos antes, e face a declarações de Manuel Damásio, afirmara peremptoriamente que não era nem papagaio nem detergente de ninguém.
Realmente, isto tudo está a precisar de uma limpeza. De uma gigantesca limpeza. Nesta altura há já quem lembre que Augusto Pinochet mandou meter no estádio de Santiago do Chile milhares de presos políticos – só porque não concordavam com a ditadura que ele implantara, depois de assassinado o Presidente Salvador Allende. A limpeza total de que o futebol luso necessita não pode passar pela ditadura, muito menos pelos hediondos e falsamente denominados crimes de opinião. Tem depassar, sim, por uma justiça séria, honesta, transparente, imparcial, independente. Onde não haja lugar para dúvidas e suspeitas – muito menos sobre cidadãos como o dr. Cruz Pereira, que é magistrado! Ou, então, teremos uma limpeza publicitária. Daquelas em que se diz – o algodão não engana... Ai engana, engana!!!
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