sexta-feira, 18 de maio de 2012

OPORTUNA, SÉRIA E SENSATA MENSAGEM AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA PORTUGUESA!

COM A DEVIDA VÉNIA REPRODUZO O TEXTO ASSINADO POR FERNANDO POMPEU, DE COIMBRA, DIVULGADO NO FACEBOOK:

Carta aberta a sua Excelência, o Presidente da República sobre a final do Jamor:

Sr. Professor,

Atrevo-me a escrever-lhe e a fazer pública esta missiva, via facebook, crente de que, familiarizado que está com os novos canais de comunicação, não deixará de me ler com a atenção com que, eu próprio, já li algumas comunicações suas, divulgadas na Rede.

Nem sei bem por onde começar, mas talvez o mais certo seja ir directo ao assunto e dar-lhe conta da minha estupefacção, perante a notícia de que não será V. Exa., a proceder à entrega da Taça de Portugal, ao vencedor do jogo do próximo domingo, o qual espero eu - e cá vai a minha declaração de interesses - seja a Briosa, Associação Académica de Coimbra.

É que se havia jogo a que eu julgava que V. Exª não iria faltar era justamente este, mais que não fosse para se demarcar, com clareza, de um antecessor seu, cuja falta de comparência teve vincado significado político, significado esse, que esteve bem longe de beneficiar o ausente.

Recordar-se-á V. Exª, ao contrário de mim próprio, que apenas tinha, à data, cerca de sete escassos meses de idade, daquela tarde mágica de 22 de Junho de 1969, quando um simples jogo de futebol empolgou um país com sonhos de futuro.

Lembrar-se-á da braçadeira branca sobre a manga das camisolas negras, símbolo de tenacidade e de coragem, tributo à liberdade, emblema da resistência pacífica, mas convicta dos estudantes de Coimbra, que assim plantavam, ali mesmo no Jamor, uma pequena semente democrática, que viria a frutificar poucos anos mais tarde.

Lembrar-se-á até do resultado, injustamente construído numa infelicidade do Viegas e num imerecido golo de Eusébio.

Ou talvez não, atendendo a que, nessa mesma tarde, o futebol e sobretudo o resultado, não foram, nem por sombras o mais importante, até porque os lances mais significativos do jogo se passaram, alternadamente, dentro das quatro linhas, onde o perfume do estilo “passe e desmarcação” dos de Coimbra ia empolgando, mas também - e sobretudo - fora delas, onde os comunicados contra a ditadura escapavam invariavelmente aos olhos perscrutadores dos «bufos» e as tarjas pela liberdade, se desfraldavam numa das bancadas, para logo desaparecerem e voltarem a soltar-se, poucos minutos depois, como que por artes mágicas, no extremo exactamente oposto do recinto… Lembrar-se-á até que os partidários do regime torciam, nessa tarde, pelo Benfica, não forçosamente por serem adeptos do emblema da águia, mas porque uma vitória da Académica era considerada demasiado problemática, demasiado subversiva, demasiado agitadora dos costumes que se queriam brandos e das consciências que, a bem da nação, se preferiam adormecidas.

Por tudo isso, Américo Tomás, optou então por não estar presente, dando a devida nota da fragilidade do poder que simbolizava e da decrepitude do «velho» Estado Novo.

Mas hoje não é assim…

Hoje o titular do cargo que V. Exª representa é escolhido pelo povo e por mais profunda que seja a crise e mais incómodas que pareçam as multidões, é ele quem deve dar a cara, para festejar o que de mais precioso ainda temos: a liberdade e a democracia que conquistámos.

Se o Presidente da República não estivesse no Jamor, o que não creio, pois julgo que V. Exª ainda reconsiderará até domingo, a sua ausência seria vista como um triste regresso à postura de antanho e mais do que isso, poderia traduzir a ideia de que, cada vez que os estudantes de Coimbra se deslocam à capital, o mais alto magistrado da nação foge, a sete pés, para a sua zona de conforto (como agora se diz) no Palácio de Belém.

Ora a história não deve repetir os maus exemplos, pelo que o mais avisado será V. Exª ter a maçada de ir à bola, no próximo domingo.

É que por mais representativa que seja a nossa simpática Presidente da Assembleia, PR é PR e não há quem possa substitui-lo na sua missão de encarnar Portugal e os Portugueses.

E eu quero ver o Presidente da República a entregar a Taça, para ter a certeza de que não recuei no tempo e que, desta feita, a Briosa estará no Jamor, não para lutar pela (re) implantação da democracia, mas para festejar a solidez dos seus alicerces.

Até domingo, Sr. Professor.

E quando entregar a Taça ao “capitão” Orlando, diga-lhe ao ouvido, que a presidência o faz com 43 anos de atraso, mas que, pelo menos, desta feita, se encarrega disso pessoalmente…

Os melhores cumprimentos. 

Sem comentários: