quinta-feira, 26 de junho de 2008

A ARBITRAGEM NOS MUNDIAIS, 1934-ITÁLIA (II)


A segunda edição do mundial deveria ter sido disputada na Suécia. O país desistiu do evento por estar com problemas financeiros. Para aspirarem a viagem até Itália inscreveram-se 34 países, sendo 23 da Europa, 4 da América do Sul, outros 4 da América Central e do Norte e 3 da África/Ásia. Efectuaram-se jogos de apuramento e, de harmonia com a determinação da FIFA, foram 16 selecções que participaram na fase final, doze representando a Europa (Alemanha, Áustria, Bélgica, Checoslováquia, Espanha, França, Holanda, Hungria, Itália, Roménia, Suécia e Suiça), duas a América do Sul (Argentina e Brasil), uma a América Central/Norte (Estados Unidos) e a Ásia/África (Egipto) a restante. A Itália, anfitriã, teve que participar no apuramento, tendo sido emparceirada com a Grécia. Os italianos venceram a primeira partida em Milão por 4-0 e os gregos desistiram. Até hoje há dúvidas sobre a decisão grega. Muitos dizem que a FIFA negociou a rendição grega, outros dizem que a arbitragem foi preparada para selar resultados. A verdade é que a Itália não precisou ir à Atenas.

Como represália pela ausência da Itália no primeiro mundial, a equipa do Uruguai, que o venceu, não participou em 1934. A Bolívia e o Paraguai acompanharam essa decisão. Foi a primeira, e única vez, que o campeão mundial não defendeu o título conquistado.
-O Estádio onde se disputou a final-

Registe-se que, no apuramento, Portugal jogou com a Espanha e perdeu os dois encontros: Em Madrid, por 9-0 e em Lisboa por 1-2.
-Réplica da bola do jogo-

Na América Central/Norte, um sistema esquisito de disputa já prevalecia. Ao invés de uma eliminatória directa com os quatro postulantes a uma vaga, a FIFA optou por três etapas. Na primeira, escolhendo entre Cuba e Haiti e determinou que para passar a eliminatória seria necessária a conquista de 5 pontos (naquele tempo as vitórias valiam só 2 pontos). Só que os jogos seriam todos no Haiti. Tiveram que jogar três vezes, porque Cuba venceu a primeira e empatou a segunda, só passando na terceira. Depois de vencer o Haiti, Cuba teve que enfrentar o México. Outra vez fora de casa em todas as partidas. Perdeu as três e foi eliminada. A organização deficiente da competição fez com que tanto o México quanto os Estados Unidos viajassem para a Itália, embora apenas uma vaga estivesse assegurada para aquela região. O México foi e teve que voltar, pois a organização decidiu fazer um jogo extra, dias antes do início da Copa, já no Estádio Nacional de Roma, entre ambos, com vitória dos Estados Unidos por 4-2. Os americanos asseguravam, assim, sua participação seguida nas duas primeiras taças do mundo.
-Ivan Eklind, o árbitro da final-

Na fase final o número de jogos atingiu os 17, dado que teve que ser encontrado o vencedor do desafio Itália-Espanha que, em primeira instância, acabou empatado (1-1). O segundo jogo realizou-se 24 depois e a Itália ganhou-o por 1-0.
-Capitães das equipas finalistas e o árbitro-

O total de espectadores rondou os 358.000, marcaram-se 70 golos e não se verificaram expulsões.
-Fase do jogo final-

O melhor marcador da fase final foi o checo Oldrich Nejedly (n. 26.12.1909 f. 11.06.1990) com 5 golos. Como curiosidade podemos referir que Luís Monti foi o primeiro jogador a jogar em selecções diferentes em finais do campeonato do mundo: pela Argentina (1930) e pela Itália (1934).
-Treinador italiano, Vittorio Pozzo-

Quanto à arbitragem diremos que participaram 25 Árbitros, representando os seguintes países: Alemanha, 1. Áustria, 2. Bélgica, 2. Checoslováquia, 1. Egipto, 1. Espanha, 1. França, 1. Holanda, 1. Hungria, 1. Itália, 12. Suiça, 1 e Suécia, 1, os quais exerceram a função de Árbitro e de auxiliares: 11, e só auxiliares: 14.
-A aguardarem o inicio do prolongamento-

Eis os seus nomes, datas importantes, países e funções (Árbitro=AR e Auxiliar=FL): -Comemoração do título-

Albino Carraro (n. 04.04.1899), Itália, AR=1 e FL=1. Alfred Birlem (n. 10.01.1888), Alemanha, AR=1 e FL=1. Alois Beranek (n. 15.01.1900), Áustria, AR=1 e FL=2. Camillo Caironi, Itália, AR=0 e FL=2. Ermenegildo Melandri, Itália, AR=0 e FL=1. Erwin Braun (n. 31.08.1895), Áustria, AR=1 e FL=0. Ettore Carminat, Itália, AR=0 e FL=1. Ferruccio Bonivento, Itália, AR=0 e FL=1. Francesco Mattea (n. 17.01.1895), Itália, AR=2 e FL=0. Generoso Dattilo (n. 03.05.1902), Itália, AR=0 e FL=1. Guiseppe Scarpi (n. 25.12.1900), Itália, AR=0 e FL=1. Guiseppe Turbiani, Itália, AR=0 e FL=1. Ivan Eklind (n.15.10.1905), Suécia, AR=3 e FL=0. Jaques Baert, França, AR=0 e FL=2. Johannes Van Moorsel (n. 09.07.1902), Holanda, AR=1 e FL=1. John Langenus (n. 08.12.1891 f. 01.10.1952), Bélgica, AR=1 e FL=0. Luís André Baert (n 29.12.1903), Bélgica, AR=1 e FL=3. Mihaly Ivancsics, Hungria, AR=0 e FL=4. Mohammed Youssof, Egipto, AR=0 e FL=1.Otello Sassi, Itália, AR=0 e FL=1. Pedro Escartin Moran (n. 10.08.1902), Espanha, AR=0 e FL=4. Raffaele Scorzoni, Itália, AR=0 e FL=1. René Mercet (n. 01.12.1898), Suiça, AR=2 e FL=1. Rinaldo Barlassina (n. 02.05.1898) Itália, AR=3 e FL=0. William Zenisek, Checoslováquia, AR=0 e FL=4. -Treinador em ombros-

O Mundial de 1934 teve interesses políticos em jogo: o regime fascista subjugava a Itália, e o ditadorBenito Mussolini planejou transformar o evento numa espécie de propaganda pró-regime. A influência indiscutível de Mussolini se impôs em diversos aspectos, como por exemplo a escolha pré-determinada de árbitros "suspeitos" nas partidas da anfitriã Itália. O sueco Ivan Eklind, que apitou a semifinal e a final, teria se encontrado com Mussolini antes das partidas.-Equipa campeã-

A Itália desejava vencer esta competição. Era natural, mas eles tornaram isso muito óbvio, escreveu tempos depois Jean Langenus, árbitro belga participante em 2 mundiais. O ditador Mussolini e seus seguidores empregaram múltiplos artifícios a fim de que o seu país vencesse e confirmasse, assim, a pujança do fascismo e a superioridade do homem italiano (embora três titulares da esquadra fossem argentinos... ). Talvez o time de Meazza nem precisasse desses empurrões, mas a verdade é que eles foram dados. A vontade fascista, no entanto, acabou prevalecendo: Itália campeã do mundo, em 10 de Junho. Três dias depois, Mussolini apertava pela primeira vez as mãos de Hitler. -Oldrich Nejedly, o bota de ouro-

Misteriosamente, decisões polémicas foram tomadas, sempre em favor da Itália. Alguns árbitros influenciaram tanto nos resultados da Itália que foram suspensos por suas pátrias após o torneio, caso do suiço René Mercet e do belga Luís Baert.
-O italiano Rinaldo Barlassina dirige o Checoslováquia, 3-Alemanha, 1-

Na semifinal disputada entre a Itália e a Áustria, sob muita chuva, o árbitro Ivan Eklind (Suécia) até usou a cabeça. Parecia tão interessado em ajudar os italianos que chegou a interceptar, com uma cabeçada, um lançamento que colocaria um avançado austríaco na iminência de marcar um golo. Eklind, também o Árbitro da final, teve uma das mais longas carreiras nos mundiais, dirigindo seis encontros, ao longo de três edições espaçadas no tempo 16 anos (1934, 1938 e 1950). -Esta saudação em Itália era obrigatória-

Este Mundial, assim como os Jogos Olímpicos de 36, ficaram marcados pelo Fascismo. Tudo foi feito para levar a Itália ao título. Desde a alteração da data dos jogos, ao local onde se disputavam as partidas, ou mesmo os árbitros que arbitravam os jogos mais importantes. A Itália conseguiu ainda em cima do torneio inscrever 4 argentinos e 1 uruguaio, vasculhando nos registos, jogadores com possíveis antepassados italianos. -O treino dos argentinos-

Este mundial da vergonha teve algumas das piores arbitragens da história, sempre em jogos que participava a Itália. -Itália defronta a Áustria-

Por fim, direi que poderá assistir a momentos deliciosos do jogo da final acedendo ao vídeo:

http://www.youtube.com/watch?v=Iwvurx3Ih3s&feature=related

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro amigo Alberto Hélder,
Algumas correcções e dúvidas quanto aos árbitros do Mundial 1934
Pedro Escartín n. 08-08-1902 http://www.vistazoalaprensa.com/firmas_art.asp?Id=1620
Ettore CARMINATI (não Carminat)
BOHUMIL Zenisek (não William)Quanto ao francês BAERT, já vi Jacques (FIFA), Georges (RSSSF), mas creio tratar-se de JULES BAERT árbitro de Lille que esteve na final da Taça de França da época 1933/34.
Um abraço amigo do
João Ferreira
joaomrmferreira@gmail.com

Anónimo disse...

Caro João Ferreira
Grato pela observação.
Contudo, devo dizer que as informações por mim divulgadas têm origem na FIFA.
Alberto Helder