Nos fins do século XIX o Árbitro (imagem 1) permanecia estático no centro do terreno e permitia que os jogadores resolvessem os diferendos entre eles. Quase sempre barbudos na sua casaca negra, chapéu de copa alta, sapatos lustrosos e polainas, e equipados com um bastão para indicar a direcção da marcação das faltas. Podia fumar um bom charuto enquanto digeria a bem agradável refeição paga pelo clube da casa e geralmente rematada (estamos a falar de futebol…) com um esplêndido brande…
Passados uns tempos, por volta da Taça de Inglaterra (1891) foi proporcionado a que dois oficiais pudessem passear-se no campo com pequenas bandeiras e exerciam as funções dos actuais Assistentes. Pode-se ver (imagem 2) que um dos oficiais actua com óculos e bem ataviado como era comum nessa época.
Nas décadas de 1920/1930 já se antevia que o Árbitro equipasse elegantemente com chapéu, camisa branca de manga curta, calças de montar de cor creme, meias cinza e bota até à canela (imagem 3).Passados uns tempos, por volta da Taça de Inglaterra (1891) foi proporcionado a que dois oficiais pudessem passear-se no campo com pequenas bandeiras e exerciam as funções dos actuais Assistentes. Pode-se ver (imagem 2) que um dos oficiais actua com óculos e bem ataviado como era comum nessa época.
Registe-se que o inglês William Pickford (1848-1923), considerado o pai dos Árbitros, no seu livro “How to referee” (imagem 4), editado em 1906, dizia: Antes de tudo, um Árbitro deve ser um cavalheiro. Deve ser firme e cortês, e tratar todos como irmãos até que demonstrem não ser dignos de confiança. Deve actuar com tacto, ser honesto e sincero com todos, sem perder o sangue-frio, nem reagir com malícia ou má vontade, sendo, não obstante, intrépido, determinado e capaz. Deverá usar um vestuário ligeiro e folgado, simples e sem cores muito vivas nem detalhes extravagantes. Ainda na capa daquela sua obra se vê um Árbitro de fins do século XIX em plena actuação com gorro, camisa, gravata, jaqueta e calças de golfe metidas nas meias negras, rematadas a branco.
No jogo Itália-Espanha, realizado em 29 de Maio de 1927, em Bolonha (imagem 5), o Árbitro inglês Stanley Rous (1895-1986), que chegou a presidente da FIFA, verifica-se que os uniformes da equipa de arbitragem não são iguais, logo não é agradável à vista.
Quanto ao excêntrico vestuário (imagem 6) do internacional belga, John Langenus (1891-1952), celebrizado na final do mundial de 1930-Uruguai, ainda usava, de vez em quando, uma capa de lã, mesmo com calor intenso!
Já Jim M. Wiltshire (imagem 7), quando dirigiu o Bélgica-Holanda, em Antuérpia, no dia 4 de Maio de 1947, preferiu usar um cómodo suéter de cor preta. Depois da II Guerra Mundial o credenciado internacional inglês Ken Aston (1915-2001) considerou necessário criar um desenho standard para o vestuário dos Árbitros e convenceu os fabricantes para adaptarem os tecidos pretos que haviam sobrado dos tempos de guerra. A boa qualidade do algodão foi ideal para todas as estações do ano e foi acertado um modelo básico para o efeito.
Uns anos depois o algodão cedeu o lugar ao nylon, apesar de não ter a sua suavidade e conforto, mas a sua aparência lustrosa dava-lhe um toque moderno e original, o que viria a ser adoptado noutros países. No jogo final do Mundial de 1966-Inglaterra o russo Tofik Bakharamov (1925-1993) utilizou o antigo modelo (imagem 8) que estava implantado na sua Federação (lã preta e cinto branco), enquanto os colegas o moderno. O preto sempre manteve o seu estatuto oficial, pese embora nalguns jogos em que os jogadores levavam cores escuras e pudessem causar confusão, o Árbitro envergava roupa de cor diferente, mas nos anos 60 a cor estava muito estafada, dando uma imagem muito apagada do trio de arbitragem num jogo moderno que florescia como espectáculo emocionante e colorido.
Registe-se que um trio holandês quando visitou Londres para dirigir um encontro europeu causou imensa sensação, mesmo muito antes de entrarem em campo, com a sua roupa normal e pela sua conduta. Vestiam elegantes casacos pretos, camisas brancas, gravatas coloridas da sua Federação, calças cinza e sapatos pretos reluzentes!Um aspecto fantástico a quem via e uma equipa orgulhosa da sua Federação e do seu país. O seu equipamento em campo deixou toda a gente boquiaberta: calção preto, meias da mesma cor com canhão branco, botas de futebol muito macias, camisa de manga larga, carmesim, com colarinho e punhos brancos.
O contraste com os jogadores era enorme e conferia um toque de elegância ao espectáculo desportivo. No campo jogava-se sem chama, sem vida, mas o trio de arbitragem, bem apresentado, desempenhou magistralmente as suas funções e controlou a partida com muita confiança e responsabilidade. Em 1967 a AFLR&L (Associação de Árbitros e Juízes de Linha de Futebol), organizou a sua primeira conferência anual em Londres e dos vários assuntos abordados que giraram em torno da direcção dos jogos e a protecção contra a violência, a questão dos uniformes dos Árbitros foi particularmente focada e teve honras de desfile com vários modelos mais actuais que poderiam alternar com o vestuário antiquado e preto. Na votação a decepção foi total, pois uma pequena maioria não estava disposta a sacrificar a sua tradicional opção, preferindo continuar a actuar de negro.
Passaram outros 20 anos ou mais, a Primeira Liga, em 1992, introduziu camisas verdes e meias pretas com canhão verde, mas desde então tem-se verificado alterações quer nas cores, quer nos desenhos das roupas. Os defensores da tradição sentiam-se constrangidos quando eram obrigados a usar nas suas camisas logótipos publicitários, mas as compensações financeiras alteraram a sua forma de pensar.À escala mundial nos torneios da FIFA, desde 1990 que se vê os Árbitros a usar equipamento preto, cinza, amarelo, azul, verde, vermelho. Grande parte dos modelos modernos ajusta-se à ideia de um atleta (imagem 9) que, na actualidade, desempenha um importante e gratificante papel no jogo.
Apesar do arco-íris à disposição e que se aprecia noutros países, a Federação Inglesa prefere ver os seus Árbitros a utilizarem o preto tradicional, com a permissão do branco mas muito, muito pouco…Actualmente, o último grito da moda usam-no os Árbitros e as Árbitras visto que a igualdade nesta área é uma realidade. Talvez passem muitos anos antes de vermos algumas variantes interessantes para as damas se vestirem à moda!...
Na imagem 10 vê-se a equipa de arbitragem que dirigiu o primeiro jogo da final dos Jogos Olímpicos de 1928-Amesterdão, entre as selecções da Argentina e Uruguai, em 10 de Junho, sendo o holandês Joahnnes Mutters o Árbitro, auxiliado pelo italiano Achile Gama e belga Jean Langenus. Diferentes entre si quer nos modelos quer nas cores…
Fonte: FIFA Magazine, Novembro 2008, páginas 28 a 30.
2 comentários:
Excelente!!!
Às vezes passam dias ou até meses sem dar uma palavra de agradecimento e louvor ao meu amigo Alberto Helder, mas eis que trabalhos como este me fazem relembrar que é de certeza o maior e mais interessado amante da arbitragem em Portugal...
GRANDE, GRANDE ABRAÇO.
Romeu Afonso
Caro Alberto Helder, queria dar-lhe os parabens por este excelente artigo! Devo dizer até que será talvez um dos mais interessantes que escreveu até agora, não desfazendo claro de todos os outros, que quanto a mim são também muitissimo interesssantes.
Bem haja pela sua paciencia e para o seu interesse continuo em ensinar!
Um abraço
Pedro Mendes
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